Na penumbra de uma vitrine no Moyse’s Hall Museum, na Inglaterra, repousa um livro que arrepia até os leitores mais corajosos. Sua capa espessa e escurecida pelo tempo não é feita de couro comum. É pele humana. Pele de um assassino.
William Corder, condenado e enforcado em 1828, foi o autor de um dos crimes mais chocantes da Inglaterra vitoriana: o assassinato de Maria Marten, caso que ficou conhecido como O Assassinato do Celeiro Vermelho. Mas seu castigo não terminou na forca.
Após a execução, como determinava a lei da época, o corpo de Corder foi destinado à ciência. Mas parte dele — mais precisamente sua pele — teve outro fim: foi utilizada para encadernar dois livros que narram o crime, o julgamento e a sentença que lhe ceifou a vida.
Essa prática, quase inimaginável hoje, tinha nome: bibliopegia antropodérmica. Uma arte obscura, rara e perturbadora, que literalmente transformava pessoas em objetos de leitura. Um dos livros encadernados com a pele de Corder ainda pode ser visto — e sentido — no museu de Suffolk.
Volume permanece em exibição, fechado. Não por acaso. Não por segurança. Talvez por respeito. Ou medo.
Seu cheiro? Não é o das páginas amareladas que apaixonam os bibliófilos. É seco, metálico, quase clínico. Um lembrete físico de que nem toda história foi feita para ser lida sob a luz do abajur.
Há quem diga que ele parece respirar. Que se você ficar tempo demais diante da vitrine, consegue sentir a pulsação da morte impressa em sua capa.
Para quem ama livros, este pode ser o mais perturbador de todos.
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