Ana Kariny Cabral Araújo - Psicóloga Casa Durval Paiva -
CRP 17/46665Diante o adoecimento, tem se tornado cada vez mais comum os
pais assumirem o papel de protagonista da vida do filho, provocando uma
regressão comportamental ainda maior do que o esperado. A criança que já
conseguia tomar banho só, lavar sua calcinha ou cueca, após o banho, dentre
outras tarefas simples, não faz mais, porque os pais não deixam.
Afinal, a imagem que se tem de um sujeito portador de uma
doença ameaçadora de morte é de extrema vulnerabilidade e debilitação, quando,
na verdade, a autonomia deve ser estimulada respeitando os limites de cada um.
A partir do momento em que esse paciente é colocado numa posição passividade,
apresenta-se de uma maneira subliminar para ele, que: “Você não tem mais
condições de fazer nada”.
É natural a proteção em volta do adoecimento, tendo em
vista que o câncer é cercado por restrições e cuidados específicos, mas a
criança precisa se desenvolver em meio a doença. Exemplo disso é a própria
escola, que não deixa de estar na sua vida. Ele precisa passar por uma
adaptação, de acordo com as suas necessidades e idade escolar, assim como, é
necessário, também, que a criança não deixe de brincar ou de participar das
atividades de casa e da comunidade.
Para isso, se faz necessário pensar em estratégias
diferenciadas, inclusivas e que respeitem o seu estado de saúde. É preciso
deixar claro que o câncer não é sentença de morte, mas sim, um momento que
exige reinvenção e adaptações, para que seja mostrada, tanto a família como a
criança, as novas possibilidades. Esse ideal é comum a todos os serviços e
profissionais, que atuam na linha de frente na Casa Durval Paiva.
As crianças são ensinadas sobre resiliência e novas
possibilidades de como estudar, os adolescentes conhecem possibilidades de
desenvolvimento de competências profissionais e os pais, que, muitas vezes,
precisam largar o emprego para se dedicar ao tratamento, descobrem maneiras de
estimular novas potencialidades.
Esse trabalho é realizado através de oficinas e cursos,
voltados para o empreendedorismo e reinserção social, como forma de equilibrar
o tempo, voltando ao tratamento, dando o start da geração de renda, diante do
adoecimento.
Neste viés, é apresentado que o câncer é uma doença, mas
que oferece possibilidades de tratamentos curativos e paliativos. Com o mesmo
objetivo, são proporcionados alguns momentos de “vida normal”, contudo, há
outros casos que precisam de mais cuidados e atenção. Dessa forma, o
desenvolvimento não para, então, não há motivos para parar. Dentro das
possibilidades de cada paciente, busca-se proporcionar qualidade de vida.