Protótipo do buggy elétrico é o mesmo do convencional e já
está pronto, aguardando apenas motor e baterias que virão da Alemanha
O Rio Grande do Norte larga na frente na produção de buggy
elétrico. De olho no “mercado do futuro”, o Estado será o primeiro da região
Nordeste a desenvolver o tradicional veículo, que passeia pelas dunas
potiguares, com motor 100% elétrico. Na quinta-feira (9), foi assinado um
acordo de cooperação entre o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(Senai/RN) e Indústria Selvagem para a produção do veículo. A Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) também participa do processo. A ideia é
utilizar a expertise da Selvagem — pioneira no setor, com 45 anos de atuação, e
principal responsável pela frota de buggies do RN — para iniciar o novo modelo
de produção.
A previsão é de que o buggy elétrico esteja pronto em 2022,
segundo funcionários da Selvagem. O desenvolvimento faz parte do Projeto
Verena, da Câmara de Indústria e Comércio de Trier (EIC/Trier), da Alemanha. A
parceria do Senai com os alemães é executada desde 2018. É de lá que virão o
motor e as baterias que alimentarão o buggy elétrico potiguar. O protótipo é
igual ao de um buggy convencional e já está pronto, aguardando apenas chegada
dos equipamentos e de uma capacitação específica com especialistas da EIC/Trier
para os técnicos que colocarão o veículo para rodar.
Segundo Rodrigo Mello, diretor regional do Centro de
Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ES), o objetivo é aproveitar a
tradição do Rio Grande do Norte na produção de energia limpa — atualmente, o
Estado é o maior produtor de energia eólica do País — para explorar a produção
de veículos que não emitem gases poluentes. “Todo mundo enxerga que o turismo é
a cara de Natal, do Rio Grande do Norte, em especial o turismo das praias, de
ar puro. E a Selvagem, que é uma indústria potiguar e faz o principal veículo
que anda pelas dunas, procurou o Senai para que a gente pudesse fazer um carro
elétrico, mas com o perfil do Rio Grande do Norte. Esse é o mercado do futuro”,
coloca.
A autonomia do modelo, ou seja, a distância que conseguirá
percorrer com baterias cheias, antes de precisar de recarga, é estimada em 200
quilômetros, de acordo com o professor de automação e eletrotécnica do passeios
ida e volta entre as praias de Ponta Negra e Muriú, uma das principais rotas turísticas
no litoral potiguar.
Como a utilização do veículo em dunas exigiria mais das
baterias e do motor do que o tráfego somente em asfalto e estradas de terra,
essa autonomia, entretanto, pode variar. “Iremos desenvolver um produto
inicialmente 100% potiguar que certamente será referência, propiciando uma
fonte de energia limpa para um produto que agrega ao turismo a preocupação com
o meio ambiente”, diz o Emerson Batista, diretor do Senai.
O investimento da pesquisa, bem como o custo para o usuário
final ainda não podem ser calculados porque dependem de uma série de fatores
que variam no decorrer dos trabalhos de produção. Apesar da projeção de
conclusão do primeiro veículo em 2022, os desenvolvedores não estimam data para
início da fabricação em escala comercial. Mas a demanda em potencial já é
notada. “Todos os dias alguém nos procura em busca desse buggy”, diz o fundador
da Selvagem, Marcos Neves.
RN já tem 105 carros elétricos em circulação
Em meio a preocupações com o meio ambiente e com a finitude
de reservas de combustíveis fósseis como petróleo, gás natural e carvão
mineral, o mundo volta as atenções para os carros elétricos, vistos como o
futuro do setor. A União Europeia (UE), por exemplo, quer proibir o uso de
carros à combustão até 2035. Na esteira global, o Rio Grande do Norte dá um
passo importante para entrar de vez no chamado mercado do futuro, a avalia o
professor e chefe do Departamento de Engenharia Elétrica da UFRN, Diomadson Belfort.
“Essa é uma demanda da sociedade como um todo. Em alguns
locais há uma legislação específica para que os carros sejam elétricos, que não
possuam poluentes, como é o caso de Fernando Noronha, que até 2030 vai ter que
estar com todos os carros convertidos. Todo mundo vai ser beneficiado com isso,
seja a sociedade, que usufrui do produto, o turista, o turista, o bugueiro, até
os mecânicos”, acrescenta. Atualmente, o Rio Grande do Norte. Trânsito do
Estado (Detran/RN).
Além das vantagens ambientais e sustentáveis, o eletricista
montador Geovane Barbosa conta que o processo de montagem do buggy elétrico será
facilitado em relação ao buggy tradicional devido ao número de peças. “A gente
elimina mais de 300 peças, com o buggy elétrico vão ser basicamente o motor, o
estator e os fusíveis. São as principais partes. Com isso, depois de toda a
capacitação, preparo, a gente vai poder montar mais e em menos tempo. A
manutenção também é menos complexa porque não tem tantas peças como os carros
normais”, explica o funcionário que trabalha na Selvagem há nove anos.
Outro fator que poderá alavancar a adesão ao motor movido a
eletricidade, no futuro, por parte dos donos de buggies é a possibilidade da
conversão de um veículo comum para o sistema elétrico. “Já existe uma
quantidade de veículos elétricos no mercado, principalmente na ilha de Fernando
de Noronha. A vantagem é que a nossa estrutura inicial de conversão já é a
estrutura do veículo à combustão. Então a gente vai ter essa facilidade de
pegar o veículo convencional e poder transformar ele em elétrico. A caixa de
marcha, por exemplo, toda a parte mecânica do carro elétrico é similar ao do
modelo atual”, detalha José Henrique, colaborador da Indústria Selvagem.
Economia
De acordo com o professor Diomadson Belfort, o turismo com
buggies poderá ficar mais limpo e econômico em decorrência de soluções que
serão desenvolvidas no projeto. Dados levantados pela universidade apontam que
715 bugueiros estão credenciados pela Secretaria de Estado do Turismo (Setur) e
atuando nos municípios de Baía Formosa, Tibau do Sul, Natal e Extremoz. Entre
os custos operacionais da atividade estão gastos com combustível, que giram em
torno de R$ 80 a R$ 100 por passeio, que poderão ficar para trás com os
veículos elétricos.
Projeto
O buggy elétrico em desenvolvimento no RN é um veículo
planejado para usar eletricidade para se locomover, por meio de baterias que
alimentam o motor. O Senai ficará responsável pelo desenvolvimento do uso da
tecnologia e a integração dos componentes elétricos e mecânicos do veículo. À
UFRN caberá a parte de “inteligência do buggy”, o que inclui toda a parte de
controle, acionamento de motor, verificação da vida útil da bateria, análise do
ambiente e detecção de falhas.
Já a EIC/Trier vai fornecer a tecnologia e promover o
treinamento necessário. Um curso de mecatrônica automotiva de 180 horas será
ministrado para a equipe envolvida, por especialistas da Alemanha. O país é o
maior produtor europeu de veículos elétricos. “É uma enorme satisfação
contribuir para a concepção e construção do primeiro buggy elétrico do Nordeste
do Brasil e a gente fica ainda mais feliz por esse buggy ter surgido no Rio
Grande do Norte, que normalmente é um estado que todos conhecem pelo turismo
mas também é um lugar onde se constrói tecnologia de ponta para um Brasil
melhor e para um mundo cada vez mais sustentável”, afirma Andreas Dohle,
consultor alemão da EIC/Trier. (TribunadoNorte).