Relatório do MP-RN (Ministério Público do Estado do Rio
Grande do Norte) aponta que um núcleo formado por pastores ligados ao PCC
(Primeiro Comando da Capital) movimentou R$ 206.579.045,28 em 215 contas
bancárias no período de 2 de janeiro de 2003 a 31 de outubro de 2021.
Segundo o MP-RN, o chefe do núcleo é Valdeci Alves dos
Santos, 51, o Colorido, apontado como integrante do alto escalão do PCC. Ele
fugiu de um presídio paulista em agosto de 2014, foi capturado em abril de 2022
em Pernambuco e depois removido para Penitenciária Federal de Brasília.
Valdeci, dois irmãos dele, um sobrinho, uma cunhada e dois
operadores financeiros do grupo foram denunciados à Justiça potiguar pelos
crimes de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha e tiveram a prisão
preventiva decretada em fevereiro deste ano, no âmbito da operação La Plata.
Todos eles, além de outros investigados que não foram
presos, mas cumprem medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica,
também tiveram a quebra de sigilo bancário decretada judicialmente.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados de
Valdeci e dos demais réus, mas publicará na íntegra a versão dos defensores de
todos eles assim que houver um posicionamento.
O MP-RN calcula que ao menos R$ 23 milhões provenientes do
tráfico de drogas foram usados pelo núcleo para abrir sete igrejas evangélicas
em São Paulo e no Rio Grande do Norte e para comprar imóveis, fazendas e
rebanhos bovinos, como informou esta coluna em 14 de fevereiro deste ano.
Promotores de Justiça apuraram que apenas um aliado de
Valdeci, considerado o principal operador financeiro do grupo, movimentou com
familiares R$ 39,6 milhões. Antes de ter a prisão preventiva decretada, ele
morava no município de Jardim das Piranhas, no Rio Grande do Norte.
Somente nas contas bancárias do operador financeiro foram
movimentados R$ 35 milhões. As investigações apontaram que esse valor é maior
do que a receita anual da cidade de Jardim das Piranhas, cuja população é de 15
mil habitantes.
Gari tinha 49 contas bancárias
O sobrinho de Valdeci, também preso na Operação La Plata, é
acusado de ter aberto 49 contas bancárias em 23 bancos diferentes. Detalhe: Ele
era gari e também assumiu, na condição de “laranja”, a titularidade de um
imóvel que na realidade pertencia ao tio dele.
Um irmão de Valdeci e a cunhada, presos em São Paulo, foram
acusados de adquirir um patrimônio de R$ 6 milhões. O casal de pastores era bem
conhecido no interior paulista. O MP-RN diz que marido e mulher fundaram as
igrejas do núcleo ligado ao PCC para fazer a lavagem de dinheiro.
Outro irmão de Valdeci chegou a movimentar R$ 1,7 milhão em
contas bancárias. Era em nome dele que o integrante do alto escalão do PCC
portava documento falso quando foi capturado por policiais rodoviários federais
na cidade pernambucana de Salgueiro.
No estado de São Paulo, Valdeci cumpriu pena junto com os
principais chefes do PCC. Na Penitenciária de Brasília, ele foi acusado de
envolvimento em um plano para resgatar a liderança da facção criminosa
recolhida na mesma unidade prisional.
Com informações de Josmar Jozino – UOL