Um casal que possuía uma
funerária em duas localidades no Colorado, nos Estados Unidos, declarou-se
culpado na sexta-feira por múltiplas acusações de abuso de cadáveres, mais de
um ano após 191 corpos em decomposição serem descobertos em suas instalações,
em uma cena horrenda, segundo as autoridades.
Jon e Carie Hallford
administravam a "Return to Nature Funeral Home" em Colorado Springs e
Penrose, no Colorado.
Eles concordaram em enfrentar
sentenças de 15 a 20 anos de prisão após se declararem culpados no Tribunal do
Condado de El Paso por 191 acusações de crime grave de abuso de cadáver, disse
Michael Allen, procurador do 4º Distrito Judicial do Colorado, em uma coletiva
de imprensa.
A sentença dos Hallfords está
marcada para abril.
A Return to Nature anunciava às
famílias que seus entes queridos seriam sepultados de maneira ecológica, com o
uso de caixões, cestos ou mortalhas biodegradáveis.
No entanto, quando um odor forte
levou os investigadores ao local em Penrose, em outubro do ano passado, eles
encontraram pelo menos 190 corpos armazenados de forma inadequada nas
funerárias de Penrose e Colorado Springs. O casal foi preso em novembro.
“O impacto sobre essas famílias
foi imenso”, disse Allen.
Ele acrescentou que os Hallfords
enganaram famílias enlutadas e que “ter alguém violando essa confiança é algo
do qual essas pessoas provavelmente nunca se recuperarão”.
O casal também se declarou
culpado em um tribunal federal no mês passado por conspiração para cometer
fraude eletrônica ao desviar mais de 800 mil dólares em fundos de alívio da
pandemia de Covid-19 fornecidos pela Administração de Pequenos Negócios dos Estados
Unidos, segundo o Departamento de Justiça do Distrito do Colorado.
Eles podem enfrentar até 20 anos
de prisão federal, de acordo com as autoridades. A sentença nesse caso está
prevista para março, segundo registros judiciais.
Em vez de usar o dinheiro
fornecido pelo governo ou pelos clientes para enterrar ou cremar os corpos, o
casal gastou milhares de dólares em viagens, joias da Tiffany & Company e
itens da Amazon, conforme os registros.
“Os Hallfords receberam mais de
130 mil dólares de vítimas por serviços de cremação ou sepultamento, que nunca
foram realizados”, afirmava a acusação federal.
Os advogados do casal não
responderam imediatamente a e-mails solicitando comentários no sábado.
Os Hallfords entregaram urnas
cheias de mistura de concreto às famílias, em vez das cinzas dos falecidos, e
também forneceram corpos errados para sepultamento em cemitérios, segundo a
acusação.
Alguns dos corpos encontrados no
ano passado na Return to Nature eram de pessoas que haviam morrido em 2019,
informaram as autoridades.
“Ele ficou no canto de uma
geladeira inoperante, jogado fora do saco para cadáveres, por quatro anos”,
disse David Page, parente de uma das vítimas, falecida em 2019, cujo corpo foi
encontrado em uma das instalações da funerária, do lado de fora do tribunal
após a confissão de culpa, conforme relatado pela Associated Press.
Para esconder a coleção macabra
de corpos nas funerárias, o casal impediu a entrada de pessoas externas nos
prédios, cobriu as janelas e portas e mentiu sobre a origem do mau cheiro,
apontou a acusação federal.
Em 2021, o Colorado tornou-se o
segundo estado, depois de Washington, a legalizar a compostagem humana,
permitindo que corpos sejam transformados em solo.
O Colorado é o único estado que
não exige educação, certificação ou licenciamento para funcionários da
indústria funerária, segundo legisladores estaduais.
O caso contra os Hallfords levou
legisladores do Colorado a impulsionar a criação de um processo de
licenciamento para profissionais funerários no estado.