A semana trouxe um exemplo clássico de saturação de pauta. O inquérito envolvendo o ex-presidente é relevante, tem peso jurídico e segue seu rito. Contudo, quando uma única narrativa ocupa todo o espaço informacional, cria-se um efeito colateral perigoso: a invisibilidade de temas igualmente graves nas áreas jurídica, econômica e diplomática.
Enquanto os holofotes permanecem fixados no Direito Penal, outros assuntos de impacto nacional seguem na penumbra:
1️⃣ Banco Master e o risco sistêmico abafado
A prisão de um CEO e suspeitas de fraudes bilionárias atingem diretamente a credibilidade do Sistema Financeiro Nacional. Ainda assim, o debate público sobre governança, fiscalização e compliance bancário praticamente não existiu. Um assunto que deveria estar no centro da agenda virou rodapé.
2️⃣ Gestão Pública sob pressão — e sem atenção
O déficit de R$ 5,6 bilhões nos Correios e os problemas revelados pela CPMI do INSS expõem falhas graves no cumprimento do princípio constitucional da eficiência. São questões estruturais, que pedem vigilância permanente, mas que foram engolidas pela guerra narrativa diária.
3️⃣ COP 30: risco diplomático ignorado
Os entraves logísticos e organizacionais da conferência indicam risco concreto de desgaste internacional para o Brasil. A gestão de recursos, a capacidade de entrega e a imagem global do país deveriam ser pauta quente — mas permanecem abafadas pelo ruído político interno.
Nada disso é teoria conspiratória. Trata-se de compreender a Ecologia da Informação: quando um único tema monopoliza a atenção, todo o resto se torna secundário — mesmo aquilo que não deveria.
Para operadores do Direito, analistas e cidadãos críticos, o desafio é justamente este: olhar além do barulho. A Justiça precisa ser feita em todas as frentes, mas o escrutínio público não pode ser seletivo. Democracia se sustenta não apenas pelo que vemos, mas também — e principalmente — pelo que deixamos de ver.

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